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Sobre o livro
Editora : Córrego (2018)
Idioma : Português
Capa comum : 134 páginas
ISBN-: 9788570390080
Prefácio de Carlos Willer


Os anjos não sabem morrer, será mais um passo na direção do reconhecimento, da percepção do alcance de sua contribuição. A relação com Agonia dos pássaros, e também com etapas precedentes de sua criação, é ao mesmo tempo de continuidade e superação. No livro precedente, a tônica é agonia e lamento pela perda, através, no dizer de Caio Liudvik em resenha publicada no Guia do jornal Folha de São Paulo, de “versos impulsionados por um afeto primordial de saudade”; algo que “não apela para sentimentalismos estereotipados na maneira contundente e enxuta como transfigura a dor pessoal em lamento e revolta metafísica da condição humana em nossos desertos, dias desabitados, fortaleza da solidão”.

Desta vez, também apresentando poesia à beira do abismo, registro de experiências-limite, há exaltação, vivência do sublime. Pode-se dizer que, se no livro anterior pesou o desconforto da imanência traduzido em litanias da perda e da morte, agora adiciona-se uma transcendência. Ou um movimento ascendente que, simultaneamente, retoma e transforma, de modo muito elaborado, uma tópica tradicional: aquela da viagem iniciativa. Porém multiplicada, resultando em um mapa de inúmeros roteiros e dimensões. Para dar conta deles, é mobilizado um vertiginoso conjunto de meios de expressão poética. Transita desde a linguagem direta, a transcrição da fala no modo mais coloquial, até criptogramas como “Argh, Hydra. Northenmost, Desolation Row”, título de um dos poemas, e sinais que valem por símbolos.

De modo à paradoxal primeira vista, Os anjos não sabem morrer é um livro de descida ao inferno e confronto com a morte; e ao mesmo tempo da celebração do encontro amoroso. É como se na Comédia de Dante, à qual há evidentes alusões, Beatriz viesse encontrar o poeta no inferno, e não ao final da trajetória. Ou como se os círculos infernais e celestiais – “A exaltada brancura do exílio” – se constituíssem em unidade; povoada, porém, mais que pela diversidade, pela multiplicidade.

Assim, sendo absolutamente original, rigorosamente pessoal, Os anjos não sabem morrer adiciona-se e acrescenta algo a uma tradição. Viagens ao reino dos mortos na poesia e nas iniciações são uma descida que resulta em ganho da sabedoria, da iluminação através de uma transformação. Assim foi com Dante, cujos réprobos eram videntes, capazes de anunciar acontecimentos futuros; e antes, com Orfeu, patrono dos poetas, e com os xamãs, que viajam aos subterrâneos e morrem simbolicamente antes de adquirirem sua linguagem pessoal, matriz da poesia; bem como, mais tarde, com William Blake, Rimbaud e todos aqueles que tiveram iluminações no inferno.

Para dar conta dessa tensão da diversidade e da unidade, Naporano procura a poesia total, absoluta, tal como proposta por Mallarmé, apropriadamente citado em epígrafe. Oculta sentidos, a dimensão prosaica dos enunciados, para revelar o Absoluto. Instiga o leitor, convidando-o a ser parceiro na decifração. Além de trazer muita simbologia tradicional, especialmente das fontes da astrologia, cria outros símbolos através de subentendidos e alusões. Principalmente, combinar vocábulos de modo a sugerir novos sentidos. Mostra que a palavra é multidimensional ao relacioná-la com o universo todo da língua.

Logo no início, o leitor se depara com versos como estes:

Entretanto, deixei que escorressem das horas,

de todos os relógios, as oxidações & a ferrugem

das janelas abandonadas nas praias da vida.

Há um encadeamento de imagens na declaração equivalente àquela de Jorge de Lima em Invenção de Orfeu: “Despi-me de outros bens, de glória mais modesta”. Começa em um modo descritivo, com associações diretas relacionadas à passagem do tempo: horas, relógios descartados que se oxidam, como em um quadro surrealista de Dali ou Ernst – mas seus relógios são janelas que estão em praias; e essas praias são a vida que passa – ou que permanece.

A cada passo, alcança maior amplidão e vai mostrando que cada coisa, cada elemento, é parte de um todo. São poemas que transmitem a impressão de poderem estender-se ao infinito. Possuído pelo demônio da analogia, enxerga todas as conexões possíveis:

A entidade negramarela da solidão

havia decidido beijar os brincos

da pele do meu céu de prata.

Palavras, conforme sua poética, são microcosmo que contém ou refletem o macrocosmo, a totalidade das coisas existentes. Daí norteá-lo a desconfiança com relação ao sentido, à relação estável do signo com algo específico. Transmite ao leitor a suspeita de que em todo vocábulo cabem mais sentidos. Um dos modos de expô-la é, evidentemente, através das palavras-valise: “Talvez as valises do sensacionismo / sejam os derradeiros fuzis da vida”.; ou como nestes versos:

Só por isso consigo

andar a pé, em algas surdas

sobre as águas do Sonho



com a garantia, valise-valia

desse ateu, todo teu

silencioso Corpo-de-Ninguém.,

Ele anda, levando a valise-valia, sobre algas ou águas? Ambos, evidentemente. As águas – e continentes – do sonho são o lugar onde o “ateu” é “todo teu”, e assim todos os sentidos convergem através das aliterações, fusões e deslocamentos. Daí as menções e alusões a Pessoa e Sá-Carneiro, expoentes do sensacionismo, do projeto de alcançar a síntese de sujeito e objeto través de um registro total como em “Ah, Mudei-me De Mim”, com sua série de oximoros e aliterações,

A fala do silêncio drapeja,

esteriliza os dizimados decibéis

das decepções.

O sensacionismo ou simultaneísmo de Naporano não apenas amplia os sentidos da linguagem, porém mostra como essa interpenetração de tudo rege o cosmos. Sua realidade é regida por um princípio de perpétua mutação; quanto mais real algo for, tanto mais será outra coisa. São as “habilidades da água” – título de um poema que vale para o livro todo. Exercendo-as, traz versos com séries alucinantes de sinestesias e correspondências:

Com os olhos da voz

gritei em vermelho-ave

mirei o fim do mundo

empurrando

com a respiração da fala

o último fantasma



e a sua faca.

Realizando essa poética, modo de expressar uma cosmovisão, sucedem-se os versos de uma extrema delicadeza, pura música verbal:

Há um arame de sol na porta

a madeira e sua ranhura em prece .

Um dos esoteristas do final do século 18, Louis-Claude de Saint-Martin, discípulo e continuador de Saint-Yves d’Alveydre, criador da ordem dos “eleitos Cohen” à qual Gérard de Nerval foi filiado, ganhou o apelido de “filósofo desconhecido”. Era secreto. Sua obra circulava de modo subterrâneo, em opúsculos e edições fora do comércio. Mas todos sabiam quem era. Exerceu uma influência colossal. Românticos da primeira geração tiveram acesso à sua obra e o estudaram. Foi constitutivo da produção filosófica e poética do grupo de Jena: estudiosos sabem que Novalis o havia estudado antes mesmo de ler Jacob Böhme.

Penso que Fernando Naporano tende a tornar-se o grande “poeta desconhecido” de sua geração, deste período de final do século 20 e começo do 21. Crescendo à sombra, expandindo-se no subsolo ao modo dos rizomas, sua poesia vai formando leitores, contribuindo para moldar uma nova sensibilidade. Influência subterrânea, mas que emergirá a seu tempo, de modo vigoroso.


SOBRE O AUTOR:
Fernando Naporano é um jornalista, poeta e crítico brasileiro. Também foi fundador, vocalista e compositor da banda de rock Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, criada no ano de 1984. Trabalhou durante 25 anos nos principais veículos brasileiros (Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, O Estado de S.Paulo, Interview e Bizz), além de atuar também em publicações inglesas e norte-americanas.[

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